16.4.08
jorge Luis Borges - posse do ontem
sei que perdi tantas coisas
que não poderia contá-las,
e que essas perdas, agora,
são o que é meu.
sei que perdi o amarelo
e o preto e penso nessas
impossíveis cores como
não pensam os que vêem.
meu pai morreu
e está sempre a meu lado.
quando quero escandir
versos de swinburne, eu o
faço, dizem-me, com sua
voz. só o que morreu é
nosso, só é nosso o que
perdemos. ílion se foi, mas
ílion perdura no
hexâmetro que a pranteia.
israel se foi quando era
uma antiga nostalgia. todo
poema, com o tempo, é
uma elegia. são nossas as
mulheres que nos
deixaram, não mais
sujeitos à véspera, que é
angústia, e aos alarmes e
terrores da esperança. não
há outros paraísos senão os
paraísos perdidos.
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5 comentários:
... não há outros paraísos senão os
paraísos perdidos.
Um fim tão belo para um poema maravilhoso e pleno de conteúdo.
Beijo
bem sei o que é perder...uma após uma..todas as coisas...
Bshell
Belo poema... dá que pensar!
Certamente existe uma forte relação entre o que sentimos fugir entre as mãos e o que possuímos deveras...
Um beijo...
como me sinto triste de tantas perdas
mas não as lembro todas... só algumas
lembro as que perduram na esperança de voltar e outras na desesperança de saber que não voltarão jamais
ainda procuro o paraíso
beijo
"...só o que morreu é
nosso, só é nosso o que
perdemos..."
Grande verdade... lindo post...
Beijinhos para ti...
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