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31.5.08




alexandre o'neill - 1924-1986
uma coisa em forma de assim


Quando falas ou simulas falar de ti próprio e amalgamas passado, presente, futuro, há sempre os que perguntam se o que contaste é verdade ou não.

Nunca indagam se vai ser verdade. O que lhes interessa é saber, com a curiosidade dos intriguistas, se o que se passou (ou parece ter-se passado) se passou mesmo contigo.

É um erro de gente vulgar. Parasitários ou não, qualquer invenção ou patranha, qualquer «mentir verdadeiro» é acepipe biográfico, é pretexto para te enfileirarem na nulidade biográfica que é a deles próprios e tecerem incansavelmente histórias a teu respeito.

Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa. Essa pequena gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar exercício diário de falar por falar.

(...) Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante.
O tombo da vida vulgar já foi feito por escritores como Camilo. E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma.


Desunha-te a escrever (olha que já tens pouco tempo!), mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras. É outro exercício salutar.



10.2.08



alexandre o'neill (1924-1986)


há palavras que nos beijam
como se tivessem boca,
palavras de amor, de esperança,
de imenso amor, de esperança louca.

palavras nuas que beijas
quando a noite perde o rosto,
palavras que se recusam
aos muros do teu desgosto.

de repente coloridas
entre palavras sem cor,
esperadas, inesperadas
como a poesia ou o amor.

(o nome de quem se ama
letra a letra revelado
no mármore distraído,
no papel abandonado)

palavras que nos transportam
aonde a noite é mais forte,
ao silêncio dos amantes
abraçados contra a morte.