27.8.07

para os meus filhos

if you can keep your head when all about you
are losing theirs and blaming it on you,
if you can trust yourself when all men doubt you,
but make allowance for their doubting too;
if you can wait and not be tired by waiting,
or being lied about, don't deal in lies,
or being hated, don't give way to hating,
and yet don't look too good, nor talk too wise:

if you can dream - and not make dreams your master,
if you can think - and not make thoughts your aim;
if you can meet with Triumph and Disaster
and treat those two impostors just the same;
if you can bear to hear the truth you've spoken
twisted by knaves to make a trap for fools,
or watch the things you gave your life to, broken,
and stoop and build 'em up with worn-out tools:

if you can make one heap of all your winnings
and risk it all on one turn of pitch-and-toss,
and lose, and start again at your beginnings
and never breath a word about your loss;
if you can force your heart and nerve and sinew
to serve your turn long after they are gone
and so hold on when there is nothing in you
except the will which says to them: "hold on!"

if you can talk with crowds and keep your virtue,
or walk with kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
if all men count with you, but none too much;
if you can fill the unforgiving minute
with sixty seconds' worth of distance run,
yours is the Earth and everything that's in it,
and - which is more - you'll be Men, my sons!

Rudyard Kipling (1865-1936)

26.8.07

um pedido.

ama-me quando eu menos merecer,
pois é aí que eu mais preciso de ti.


17.8.07

florbela espanca - crucificada (charneca em flor)

amiga. noiva. irmã. o que quiseres
por ti, todos os céus terão estrelas,
por teu amor, mendiga, hei de merecê-las
ao beijar a esmola que me deres.

podes amar até outras mulheres
hei de compor, sonhar palavras belas,
lindos versos de dor só para elas,
para em lânguidas noites lhes dizeres

crucificada em mim, sobre os meus braços,
hei de poisar a boca nos teus passos
para não serem pisados por ninguém.
e depois. ah! depois de dores tamanhas

nascerás outra vez de outras entranhas,
nascerás outra vez de uma outra Mãe


15.8.07

pablo neruda - tus manos

Cuando tus manos salen,
amor, hacia las mías,
qué me traen volando?
Por qué se detuvieron
en mi boca, de pronto,
por qué las reconozco
como si entonces, antes,
las hubiera tocado,
como si antes de ser
hubieran recorrido
mi frente, mi cintura?

Su suavidad venía
volando sobre el tiempo,
sobre el mar, sobre el humo,
sobre la primavera,
y cuando tú pusiste
tus manos en mi pecho,
reconocí esas alas
de paloma dorada,
reconocí esa greda
y ese color de trigo.

Los años de mi vida
yo caminé buscándolas.
Subí las escaleras,
crucé los arrecifes,
me llevaron los trenes,
las aguas me trajeron,
y en la piel de las uvas
me pareció tocarte.
La madera de pronto
me trajo tu contacto,
la almendra me anunciaba
tu suavidad secreta,
hasta que se cerraron
tus manos en mi pecho
y allí como dos alas
terminaron su viaje.

14.8.07

fome - maurette brandt

atravessar o teu corpo
como se não fosse matéria
e acariciar tua simetria perfeita
em ternura e fogo,
delicadeza e gula.
ensaio de magia.
percorrer-te
como trilha na mata,
um susto a cada dobra do caminho,
a cada pequeno ruído,
um arfar de folhas à minha passagem.
tomar-te
de assalto e depressa,
preenchendo a boca
com todos os segredos
até então amordaçados,
depositados
no único lugar seguro
e enveredar por todas as curvas,
archote na mão,
ofegante, certeira,
a um passo do perigo
e do gozo
da descoberta.

12.8.07

miguel torga - 100 anos

apelo

porque não vens agora, que te quero,
e adias esta urgência.
prometes-me o futuro e eu desespero.
o futuro é o disfarce da impotência.
hoje. aqui. já. neste momento.
ou nunca mais.
a sombra do alento é o desalento.
o desejo. o limite dos mortais.
.
pas-de-deux - maurette brandt

.

abraços

ardores

ardentes

suores

afagos

adornos

anseios

tremores

arquejos

sussurros

cicios

gemidos

vagidos

murmúrios

gotejos _____________________ e nós.

.

alberto caeiro - passei toda a noite
passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela, e vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela. faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala, e em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança. amar é pensar. e eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela. não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
tenho uma grande distracção animada. quando desejo encontrá-la quase que prefiro não a encontrar, para não ter que a deixar depois. não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. quero só pensar nela. não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar
.
hysteria - t.s. eliot

As she laughed I was aware of becoming involved in her laughter and being part of it, until her teeth were only accidental stars with a talent for squad-drill. I was drawn in by short gasps, inhaled at each momentary recovery, lost finally in the dark caverns of her throat, bruised by the ripple of unseen muscles. An elderly waiter with trembling hands was hurriedly spreading a pink and white checked cloth over the rusty green iron table, saying: "If the lady and gentleman wish to take their tea in the garden, if the lady and gentleman wish to take their tea in the garden ..." I decided that if the shaking of her breasts could be stopped, some of the fragments of the afternoon might be collected, and I concentrated my attention with careful subtlety to this end.

.

aqui mereço-te - antónio ramos rosa

o sabor do pão e da terra e uma luva de orvalho na mão ligeira. a flor fresca que respira é branca. e corto o ar como um pão enquanto caminho entre searas. pertenço em cada movimento a esta terra. o meu suor tem o gosto das ervas e das pedras. sorvo o silêncio visível entre as árvores. é aqui e agora o dilatado abraço das raízes claras do sono. sob as pálpebras transparentes deste dia o ar é o suspiro dos próprios lábios. amar aqui é amar no mar, mas com a resistência das paredes da terra a mão flui liberta tão livre como o olhar. aqui posso estar seguro e leve no silêncio entre calmas formas, matérias densas, raízes lentas, ao fogo esparso que alastra no horizonte. no meu corpo acende-se uma pequena lâmpada. tudo o que eu disser são os lábios da terra, o leve martelar das línguas de água, as feridas da seiva, o estalar das crostas, o murmúrio do ar e do fogo sobre a terra, o incessante alimento que percorre o meu corpo. aqui no grande olhar eu vejo e anuncio as claras ervas, as pedras vivas, os pequenos animais, os alimentos puros, as espessas e nitritivas paredes do sono, o teu corpo com todo o vagar da sua massa, todo o peso das coisas e a ligeireza do ar. ao flexível volante trabalhado pelas seivas a minha mão alia-se: bom dia, horizonte. uma saúde nova vai nascer destes ombros. a lâmpada respira ao ritmo da terra. sei os caminhos de água pelas veredas, as mãos das ervas finas embriagadas de ar, o silêncio donde se ergue a torre do canto. abrem-se os novos lábios e eu mereço-te. é este reino de insectos e de jogos, das carícias que sabem a uma sede feliz. aqui entre o poço e o muro, neste pequeno espaço de pedra cai um silêncio antigo: uma infância inextinguível se alimenta de uma fábula que renasce em todas as idades. é aqui, minha filha, que dança a fada do ar com seu brilho sedoso de erva fina e a sua abelha silenciosa sobre a fronte. é aqui o eterno recanto onde a água diz a pura praia da infância. aqui bebe e bebe longamente o hábito da tristeza no silêncio da vida, aqui, ó pátria de água calada e de pão doce, da fundura do tempo, da lonjura permanente, aqui, bom dia, minha filha.

.