22.11.08




herberto helder - fonte - I


ela é a fonte.
eu posso saber que é a grande fonte
em que todos pensaram. quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo ---
cada um pensava na fonte.
era um manar
secreto e pacífico.
uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.

ninguém falava dela, porque
era imensa. mas todos a sabiam
como a teta. como o odre.
algo sorria dentro de nós.

minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente.
meu pai lia.
sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
era a fonte.

eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
a lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.

hoje o sexo desenhou-se. o pensamento
perdeu-se e renasceu.
hoje sei permanentemente que ela é a fonte.




7 comentários:

Maria disse...

É tão bom ver-te por aqui...
... ainda melhor do que ler H.H....

Beijo

pin gente disse...

quantas fontes eu vi

gosto de aqui vir... gosto muito do nome deste teu blog
p o e m a r i o

b e i j o

Delfim Peixoto disse...

Li e fiquei "colado"
Voltarei com mais calma

pin gente disse...

como deixar-te um beijo?
como abraçar-te para o novo ano?

feliz 2009

pin gente disse...

preciso de poesia, poemário!


deixo um abraço (em troca)

pin gente disse...

quando voltar a mudar de foto torno a vir... isto parece um album! eheheh

faz de conta que não sou eu

Marta Vinhais disse...

Boa escolha...
Obrigada pela visita...
Também gostei do teu blog...
Beijos e abraços
Marta