27.3.08



nuno júdice - braille


Leio o amor no livro
da tua pele;
demoro-me em cada
sílaba, no sulco macio
das vogais, num breve
obstáculo de consoantes,
em que os meus dedos
penetram, até chegarem
ao fundo dos sentidos.

Desfolho as páginas
que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio
de um roçar de palavras
que se juntam,
como corpos,
no abraço de cada frase.

E chego ao fim
para voltar ao princípio,
decorando
o que já sei,
e é sempre novo
quando o leio na tua pele.



4.3.08



valter hugo mãe


somos uma árvore nem sempre
pensada. vimos uns dos outros como
se fossemos terra uns dos outros, terra e
sangue, ágil sobre o tempo por
instinto e uma certa paixão. somos
uma árvore nem sempre erguida.
temo-nos uns aos outros como
causas e efeitos em busca dos
caminhos e uma certa paixão.
somos uma árvore nem sempre
razoável. magoamo-nos uns aos
outros como necessitados de coisas
más sem grandes razões e de
uma certa paixão