30.10.07


william morris - our hands have met

Our hands have met, our lips have met
Our souls - who knows when the wind blows
How light souls drift mid longings set,
If thou forget'st, can I forget
The time that was not long ago?

Thou wert not silent then, but told
Sweet secrets dear - I drew so near
Thy shamefaced cheeks grown overbold,
That scarce thine eyes might I behold!
Ah was it then so long ago!

Trembled my lips and thou wouldst turn
But hadst no heart to draw apart,
Beneath my lips thy cheek did burn -
Yet no rebuke that I might learn;
Yea kind looks still, not long ago.

Wilt thou be glad upon the day
When unto me this love shall be
An idle fancy passed away,
And we shall meet and smile and say
'O wasted sighs of long ago!'

Wilt thou rejoice that thou hast set
Cold words, dull shows 'twixt hearts drawn close,
That cold at heart I live on yet,
Forgetting still that I forget
The priceless days of long ago?


23.10.07



Wisława Szymborska (Kórnik, Polónia, 1923)

TERRORISTA… OLHA


a bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
são neste momento treze e dezasseis.
alguns conseguem ainda entrar,
alguns sair.

o terrorista passou já para o outro lado da rua.
a esta distância ficará livre de perigo
e, quanto a vista, é como no cinema:

uma mulher de casaco amarelo... entra.
um homem de óculos escuros... sai.
rapazes de jeans... conversam.
treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
aquele baixinho tem sorte e senta-se na vespa,
mais um tipo alto que entra.

treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos.
passa uma moça de fita verde nos cabelos.
só que o autocarro oculta-a.

treze e dezoito.
a rapariga desapareceu.
se foi bastante estúpida para entrar ou não,
isso se saberá pelas notícias.

treze e dezanove.
parece que ninguém entra.
há porém um careca gordo que sai.
mas olha, parece que procura algo nos bolsos,
faltam treze segundos para as treze e vinte,
e ele volta a entrar em busca das luvas que perdeu.

são treze e vinte.
como o tempo voa.
deve ser agora.
ainda não.
sim, é agora.
a bomba.... explode


18.10.07



pablo neruda

...

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


13.10.07



il più sicuro modo di felicità è il movimento mentale: il "gioco" mentale.




«Chegar, deitar-se: por vezes os dois actos sucedem-se e encadeiam-se com tal rapidez como se entre ambos não decorresse, hesitante ou cegamente precipitada, aquela operação, um tanto mágica à força de tão simples, de primeiro se descalçar, de logo em seguida se despir. Deitada de través em cima do largo divã, os seus braços tomam de súbito a postura de dois ramos oblíquos, na quase pânica expectativa de sentir-se adorada. Devagar os vai depois estreitando, até que ficam inteiramente estirados para trás; mas já as pernas entretanto começaram a reproduzir, em posição inversa, o grafismo da mesma letra.

Digamos, para simplificar, que se chama Y. (E surpreendo-me a murmurar: Ípsilon...).
Além de não querer nem poder dizer o seu nome, o nome é o que menos interessa; ou o que menos deveria interessar-nos. Mas só o facto de lhe chamar Y já a torna diferente de quem ela é, de quem eu julgo que ela seja.

Com esta sigla de empréstimo, ei-la desde logo um pouco embrulhada, ligeiramente encoberta ou menos tangível, somo se o rosto e os cabelos lhe ficassem também em boa parte velados, entrançadamente semiocultos por aquele xaile branco, de malha entreaberta e muito larga, quase a evaporar-se, que só costuma aliás colocar em cima dos ombros nus. Pior para mim: assim ainda me parece mais desejável.»

nota: o xaile branco que nunca se esquece de trazer, no fundo de um saco de Hermès...


David Mourão-Ferreira, Um amor feliz, Ed. Presença, 1999



12.10.07



vou
não vou
agora não vou
talvez vá
diz-me para ir
nao digas a ninguém

sonsa indecisão
sonsa


11.10.07



somos transparentes
dentro do corpo
do medo
do rio

o calor da água

o riso


8.10.07



olhar o espelho
pela manhã.
sentir o não vexame.
a não derrota.
valeram os princípios.
consumidos
nos dias infindáveis.

a dignidade.


5.10.07



se eu pudesse trincar a terra toda
sentir-lhe um paladar,
seria mais feliz um momento.
mas eu nem sempre quero ser feliz.
é preciso ser de vez em quando infeliz
para se poder ser natural.
nem tudo é dias de sol,
e a chuva, quando falta muito, pede-se.
por isso tomo a infelicidade com a felicidade
naturalmente, como quem não estranha
que haja montanhas e planícies
e que haja rochedos e erva.
o que é preciso é ser-se natural e calmo
na felicidade ou na infelicidade,
sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
e quando se vai morrer,
lembrar-se de que o dia morre,
e que o poente é belo e é bela a noite que fica.
assim é e assim seja.



é melhor ser bom que mau. mas o preço de ser bom é terrivelmente alto.


2.10.07



love in the past is only a memory.
love in the future is a fantasy.
only here and now can we truly love.




florbela espanca

gosto de ti apaixonadamente,
de ti que és a vitória, a salvação,
de ti que me trouxeste pela mão
até ao brilho desta chama quente.

a tua linda voz de água corrente
ensinou-me a cantar. e essa canção
foi ritmo nos meus versos de paixão,
foi graça no meu peito de descrente.

bordão a amparar minha cegueira,
de noite negra o mágico farol,
cravos rubros a arder numa fogueira!

e eu, que era neste mundo uma vencida,
ergo a cabeça ao alto, encaro o Sol!
águia real, aponta-me a subida!


1.10.07



simone de beauvoir

A amizade é, acima de tudo, certeza – é isso que a distingue do amor.