26.12.10



carlos drummond de andrade


cada irmão é diferente.
sozinho acoplado a outros sozinhos.
a linguagem sobe escadas, do mais moço,
ao mais velho e seu castelo de importância.
a linguagem desce escadas, do mais velho
ao mísero caçula.
são seis ou são seiscentas
distâncias que se cruzam, se dilatam
no gesto, no calar, no pensamento?
que léguas de um a outro irmão.
entretanto, o campo aberto,
os mesmos copos,
o mesmo vinhático das camas iguais.
a casa é a mesma. Igual,
vista por olhos diferentes?
são estranhos próximos, atentos
à área de domínio, indevassáveis.
guardar o seu segredo, sua alma,
seus objectos de toalete. Ninguém ouse
indevida cópia de outra vida.
ser irmão é ser o quê? Uma presença
a decifrar mais tarde, com saudade?
com saudade de quê? De uma pueril
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?


2 comentários:

Maria disse...

Saudade de te ler aqui...

:)

isabel disse...

beijo, querida Maria :)