26.12.10



carlos drummond de andrade


cada irmão é diferente.
sozinho acoplado a outros sozinhos.
a linguagem sobe escadas, do mais moço,
ao mais velho e seu castelo de importância.
a linguagem desce escadas, do mais velho
ao mísero caçula.
são seis ou são seiscentas
distâncias que se cruzam, se dilatam
no gesto, no calar, no pensamento?
que léguas de um a outro irmão.
entretanto, o campo aberto,
os mesmos copos,
o mesmo vinhático das camas iguais.
a casa é a mesma. Igual,
vista por olhos diferentes?
são estranhos próximos, atentos
à área de domínio, indevassáveis.
guardar o seu segredo, sua alma,
seus objectos de toalete. Ninguém ouse
indevida cópia de outra vida.
ser irmão é ser o quê? Uma presença
a decifrar mais tarde, com saudade?
com saudade de quê? De uma pueril
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?


14.12.10




Lawrence Ferlinghetti



"(...) Dádá devia ter gostado de um dia como este
com este sol de lâmpada eléctrica
que ilumina de uma forma tão diferente
pessoas diferentes
mas que ilumina de modo tão idêntico
toda a gente
e tudo
tal como
um pássaro que vai cantar
um avião numa nuvem debruada a ouro
uma mão com um esfregão
a acenar à janela
ou um telefone que vai tocar
ou uma boca que vai deixar de
fumar
(...)"